quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Debate na igreja tradicional: DEUS ACEITA OS GAYS



Claro que ainda não foi o cenário que muitos cristãos evangélicos da comunidade LGBT desejam presenciar e viver. Entretanto, a verdade precisa ser registrada e esta é que um evento, para jovens, sendo o tema “Homossexualidade na igreja é possível?” já nos chama a atenção (mesmo já sabendo o pressuposto de como seria o “discurso”) e ainda ocorrendo em uma Igreja Evangélica (tradicional) da denominação Assembleia de Deus (do bairro P-Sul, na cidade de Ceilândia, Brasília-DF), definitivamente, nos chama mais a atenção ainda. O nome ‘Altas Horas’ – referência ao programa da rede de TV Globo, liderado pelo Serginho Groisman, somente foi uma inspiração, pois o evento era focado no ministério de jovens da referida Igreja e o programa global tem esse mesmo público como alvo. Mas, vamos ao que de fato ocorreu no evento.

Nós não havíamos sido convidados

Ao chegarmos no local do evento, percebemos que havia poucas pessoas. Percebemos que o evento tinha a aparência de ser algo mais fechado e focado na membresia e não no público em geral. Esclarecemos que nós não fomos convidados e que não tínhamos visualizado o evento em alguma rede social (até porque o evento não foi divulgado nas redes sociais). Mas, para você que lê este texto podemos explicar como chegamos no evento: foi por meio de um jovem – homoafetivo cristão – que estamos acompanhando, aconselhando, e ao saber do evento, achou por bem nos comunicar com a visão da necessidade de haver pessoas que defendessem com o discurso contrário (Deus não faz acepção de pessoas) daquele que provavelmente seria proferido (Deus condena a Homossexualidade).

Houve certa surpresa por parte de alguns que nos abordaram e ficaram curiosos por saber como havíamos chegado até eles. Explicamos que tínhamos recebido o convite sobre o evento por um conhecido (o que não deixa de ser verdade) e que tínhamos muito interesse em estar presentes ali. Houve certa resistência da recepcionista ao nos questionar se, de fato, estávamos na Igreja certa, e respondemos que, sim, ali era a Igreja certa. Ocorreu uma breve saudação, um rápido momento de louvor e depois se iniciou o debate.

O Grande Desafio

No ano de 2007 o ator, Denzel Washington, dirigiu e atuou no filme The Great Debaters” – que em português recebeu o nome de “O Grande Desafio” – sendo baseado em uma história real. Este belo filme conta a história de um professor negro, nos anos 30, na cidade do Texas/EUA, em um cenário pungente de segregação e intolerância racial, que prepara uma equipe de jovens (negros) para participar de debates sobre a atualidade daquele país (no clímax do filme sendo o principal debate contra uma equipe de jovens brancos). Nesses debates existem duas partes, a que defenderá o tema proposto e aquela que refutará todos os argumentos da equipe oposta.

Lembremos que o filme se passa em uma época de muita violência (velada, moral, verbal e a física) trazendo à tona toda a bestialidade a qual uma pessoa preconceituosa e intolerante possa realizar àquelas pessoas que são diferentes dela. A equipe começa a ter projeção estadual e nacional os levando para debates mais voltados à questão da segregação racial. E foi em um desses debates que o Espírito Santo me tocou!

Uma das personagens realiza a sequência de questionamentos para saber o porquê a comunidade negra não poderia frequentar uma mesma universidade de pessoas brancas. Na sequência, ela apresenta argumentos que validam a sua defesa de que a segregação racial deveria ter um fim, pois todos eram iguais. Meus olhos ficaram marejados. Então o doce e suave Espírito Santo me levou a lembrar das histórias que lemos no livro de Atos, na Bíblia, como as de Estevão, Filipe, Pedro e o próprio evangelista Paulo, o quanto foram corajosos em defender aquilo que acreditavam: Jesus era o Messias, Filho de Deus e o Evangelho de Cristo.

Quando o Pr. Alexandre (meu esposo) me disse estar interessado em presenciar o evento na Igreja Assembleia de Deus, um medo me tomou por inteiro, acabando por eu argumentar com ele o quão era absurda a ideia de estarmos em um cenário que era completamente desfavorável ao que acreditamos. Seríamos massacrados. Mas, o Espírito Santo, logo depois durante a sessão do filme, me tocou.

E uma coragem me invadiu a mente, alma e espírito que acarretou na decisão de que deveríamos, sim, estar lá no evento da Igreja. Entretanto, lancei um desafio ao Pr. Alexandre (que também apresentava certo nervosismo velado) que foi o de nos apresentarmos como um casal homoafetivo e lançar os nossos argumentos em defesa da verdade que acreditamos: Deus não faz acepção de pessoas e aceita as relações afetivas entre iguais.

Em uma oportunidade assista ao filme.

A grande surpresa

O pastor dirigente do evento chamou os palestrantes para o debate, sendo estes: um pastor convidado, a esposa desse pastor (que ficou muda durante todo o tempo que estivemos no evento) e uma estudante de psicologia. A plateia era totalmente de jovens (idade entre 15 e 20 anos) e jovens adultos (idade entre 25 e 30 anos).

A fala de abertura do pastor dirigente foi bastante bonita, porque apresentava a clara visão de que a Igreja tradicional não sabe lidar ainda com a questão da homossexualidade, que o momento ali era buscar conhecimento para que os jovens pudessem lidar com questões pessoais, evangelísticas e de confronto. Entretanto, o bonito foi até aqui (exceto por outra situação que citarei mais adiante).

A palavra inicial do pastor convidado já foi citar a passagem de Levítico 18.22 (versículo tradicionalmente utilizado para a condenação da homossexualidade). Um desconforto já foi sendo gerado em minha pessoa (até naquele momento eu supunha que também no Pr. Alexandre), um medo querendo me dominar e um estado de covardia tomando forma. Abri a minha Bíblia, comecei uma intercessão no espírito, e preparei a minha primeira argumentação questionadora, com base na passagem de 1Coríntios 14.34 – 36 ( versículos que apresentam a ordem de Paulo acerca das mulheres; ).

A oportunidade foi dada a mim e nos apresentei literalmente desta forma: “Boa noite! A paz de Cristo Jesus para todos os presentes. Sou cristão evangélico, sou homossexual, este aqui ao meu lado é o meu esposo, o Pastor Alexandre Feitosa, somos de uma Igreja que não condena a homoafetidade!”. Por segundos deixei de falar para poder observar a reação dos presentes e ver se o Pr. Alexandre não havia desmaiado (brincadeira à parte). Claro que eles ficaram surpresos, pois eles não esperavam nunca um casal homoafetivo assumido no evento sobre homossexualidade na Igreja.

O momento surpresa passou e direcionamos o nosso discurso de que não estávamos ali para confrontá-los, mas para aduzir a eles outra visão, lançar uma semente da necessidade de revisão na forma do estudo daquelas passagens das Escrituras sobre a homossexualidade. Logo o pastor convidado argumentou a “velha” resposta de que as palavras de Paulo sobre as mulheres eram para aquela época e blá blá blá, o discurso que muitos já conhecemos. Daí veio a nossa surpresa quando uma oportunidade foi passada para uma jovem (membro da Igreja local) que o questionou: “Então, por que razão se contextualiza historicamente a palavra de Paulo sobre as mulheres e sobre a homossexualidade não?”. A mãe da jovem, que é diaconisa na Igreja local, entrou no circuito e iniciou toda uma argumentação com base em Romanos 1 (outra passagem na Bíblia tradicionalmente utilizada para a condenação da homossexualidade) pegando versículos isolados, sem contextualizar, de fato, todas as passagens do capítulo.

Foi a oportunidade certa para que o Pr. Alexandre entrasse no debate e iniciou o seu discurso sobre o estudo com o método histórico-crítico da Bíblia. Uma enxurrada de argumentos, avaliações, questionamentos gerados por ele que deixou os participantes em um profundo, constrangedor e notório silêncio durante um tempo. Mas, reforçamos mais uma vez que o nosso alvo ali era provocar neles questionamentos fora da “caixinha doutrinária” que a Igreja tem por séculos. (No final desse texto haverá links para que você, caso não conheça a TEOLOGIA INCLUSIVA, possa se aprofundar neste conhecimento)

Teologia Tradicional x Teologia Inclusivao AMOR nunca falha

É importante citar que a oportunidade de fala da estudante de psicologia também gerou um lindo momento. Ela, a estudante, a mãe dela (presente no local) nos pediram perdão pelo discurso de ódio e de desamor que sofremos por parte da igreja institucional  ao longo de nossas vidas. Precisamos confessar que essa ação nos pegou de surpresa e uma atmosfera de quebrantamento foi sentida pelo menos por aqueles que estavam ligados em espírito no Espírito Santo. Mas, a atmosfera logo foi dissipada, pois veio a afirmação dela de que a prática da homossexualidade ainda era reprovada por elas.

Outra situação bastante relevante foi a do pastor convidado ao citar que os comportamentos de chacotas, bullying, machismos e isolamento para com os jovens “aparentemente” afeminados, não ajudavam em nada na conquista destes para Cristo. De que os cristãos tradicionais necessitavam quebrar preconceitos e seguir em frente pregando o amor de Deus.

Entre erros e acertos, prós e contras, a percepção de haver Igrejas que se levantam para discutir de forma aberta, mesmo que tenham ainda o discurso falacioso que é “[...] amamos o pecador, mas repudiamos o pecado [...]”, precisamos dar crédito pela coragem deles de saírem do “mundinho gospel” e olharem para uma questão tão séria e tratá-la de maneira direta com os jovens.

A semente foi lançada. Argumentos foram apresentados. Notoriamente alguns dos presentes ficaram interessados em querer conversas mais conosco. Mas, a direção do Espírito Santo, em um determinado momento do evento foi: “Parem! Eles não podem receber mais do que foi dito hoje. Vocês podem ir embora. Sejam sábios e saiam!”. Fomos convidados para permanecer por mais tempo, mas preferimos seguir a voz do Espírito.

Continuemos com o amor à Obra, continuemos com as nossas intercessões, mas, principalmente, sejamos corajosos como Estevão, Filipe, Pedro e Paulo. Não nos acovardemos diante das várias vozes que nos condenam. A mais importante voz, a voz do nosso Pai Celestial nos diz diariamente: “Sejam corajosos, pois eu sou com vocês. Eu amo vocês!”. Capacitemo-nos biblicamente, espiritualmente e sigamos em defender que o AMOR nunca falha.


No amor pela Obra,