Claro que ainda não foi o cenário que
muitos cristãos evangélicos da comunidade LGBT desejam presenciar e viver.
Entretanto, a verdade precisa ser registrada e esta é que um evento, para
jovens, sendo o tema “Homossexualidade na igreja é possível?” já nos chama a
atenção (mesmo já sabendo o pressuposto de como seria o “discurso”) e ainda
ocorrendo em uma Igreja Evangélica (tradicional) da denominação Assembleia de
Deus (do bairro P-Sul, na cidade de Ceilândia, Brasília-DF), definitivamente,
nos chama mais a atenção ainda. O nome ‘Altas Horas’ – referência ao programa
da rede de TV Globo, liderado pelo Serginho Groisman, somente foi uma
inspiração, pois o evento era focado no ministério de jovens da referida Igreja
e o programa global tem esse mesmo público como alvo. Mas, vamos ao que de fato
ocorreu no evento.
Nós não havíamos sido convidados
Ao chegarmos no local do evento, percebemos que havia poucas pessoas. Percebemos que o evento tinha a
aparência de ser algo mais fechado e focado na membresia e não no público em
geral. Esclarecemos que nós não fomos convidados e que não tínhamos visualizado o
evento em alguma rede social (até porque o evento não foi divulgado nas redes sociais). Mas, para você que lê este texto podemos explicar como chegamos no evento: foi por meio de um jovem – homoafetivo cristão – que
estamos acompanhando, aconselhando, e ao saber do evento, achou
por bem nos comunicar com a visão da necessidade de haver pessoas que
defendessem com o discurso contrário (Deus não faz acepção de pessoas) daquele
que provavelmente seria proferido (Deus condena a Homossexualidade).
Houve certa surpresa por parte de
alguns que nos abordaram e ficaram curiosos por saber como havíamos chegado até
eles. Explicamos que tínhamos recebido o convite sobre o evento por um
conhecido (o que não deixa de ser verdade) e que tínhamos muito interesse em
estar presentes ali. Houve certa resistência da recepcionista ao nos questionar
se, de fato, estávamos na Igreja certa, e respondemos que, sim, ali era a
Igreja certa. Ocorreu uma breve saudação, um
rápido momento de louvor e depois se iniciou o debate.
O Grande Desafio
No ano de 2007 o ator, Denzel
Washington, dirigiu e atuou no filme “The Great Debaters” – que em português
recebeu o nome de “O Grande Desafio” – sendo baseado em uma história real. Este
belo filme conta a história de um professor negro, nos anos 30, na cidade do
Texas/EUA, em um cenário pungente de segregação e intolerância racial, que
prepara uma equipe de jovens (negros) para participar de debates sobre a
atualidade daquele país (no clímax do filme sendo o principal debate contra uma
equipe de jovens brancos). Nesses debates existem duas partes, a que defenderá
o tema proposto e aquela que refutará todos os argumentos da equipe oposta.
Lembremos que o filme se passa em
uma época de muita violência (velada, moral, verbal e a física) trazendo à tona
toda a bestialidade a qual uma pessoa preconceituosa e intolerante possa
realizar àquelas pessoas que são diferentes dela. A equipe começa a ter
projeção estadual e nacional os levando para debates mais voltados à questão da
segregação racial. E foi em um desses debates que o Espírito Santo me tocou!
Uma das personagens realiza a
sequência de questionamentos para saber o porquê a comunidade negra não poderia
frequentar uma mesma universidade de pessoas brancas. Na sequência, ela
apresenta argumentos que validam a sua defesa de que a segregação racial
deveria ter um fim, pois todos eram iguais. Meus olhos ficaram marejados. Então
o doce e suave Espírito Santo me levou a lembrar das histórias que lemos no
livro de Atos, na Bíblia, como as de Estevão, Filipe, Pedro e o próprio
evangelista Paulo, o quanto foram corajosos em defender aquilo que acreditavam:
Jesus era o Messias, Filho de Deus e o Evangelho de Cristo.
Quando o Pr. Alexandre (meu esposo)
me disse estar interessado em presenciar o evento na Igreja Assembleia de Deus,
um medo me tomou por inteiro, acabando por eu argumentar com ele o quão era
absurda a ideia de estarmos em um cenário que era completamente desfavorável ao
que acreditamos. Seríamos massacrados. Mas, o Espírito Santo, logo depois
durante a sessão do filme, me tocou.
E uma coragem me invadiu a mente,
alma e espírito que acarretou na decisão de que deveríamos, sim, estar lá no
evento da Igreja. Entretanto, lancei um desafio ao Pr. Alexandre (que também
apresentava certo nervosismo velado) que foi o de nos apresentarmos como um
casal homoafetivo e lançar os nossos argumentos em defesa da verdade que
acreditamos: Deus não faz acepção de pessoas e aceita as relações afetivas entre
iguais.
Em uma oportunidade assista ao
filme.
A grande surpresa
O pastor dirigente do evento
chamou os palestrantes para o debate, sendo estes: um pastor convidado, a esposa
desse pastor (que ficou muda durante todo o tempo que estivemos no evento) e
uma estudante de psicologia. A plateia era totalmente de jovens (idade entre 15
e 20 anos) e jovens adultos (idade entre 25 e 30 anos).
A fala de abertura do pastor
dirigente foi bastante bonita, porque apresentava a clara visão de que a Igreja
tradicional não sabe lidar ainda com a questão da homossexualidade, que o
momento ali era buscar conhecimento para que os jovens pudessem lidar com
questões pessoais, evangelísticas e de confronto. Entretanto, o bonito foi até
aqui (exceto por outra situação que citarei mais adiante).
A palavra inicial do pastor
convidado já foi citar a passagem de Levítico 18.22 (versículo tradicionalmente
utilizado para a condenação da homossexualidade). Um desconforto já foi sendo
gerado em minha pessoa (até naquele momento eu supunha que também no Pr.
Alexandre), um medo querendo me dominar e um estado de covardia tomando forma.
Abri a minha Bíblia, comecei uma intercessão no espírito, e preparei a minha
primeira argumentação questionadora, com base na passagem de 1Coríntios 14.34 –
36 ( versículos que apresentam a ordem de Paulo acerca das mulheres; ).
A oportunidade foi dada a mim e
nos apresentei literalmente desta forma: “Boa noite! A paz de Cristo Jesus para
todos os presentes. Sou cristão evangélico, sou homossexual, este aqui ao meu
lado é o meu esposo, o Pastor Alexandre Feitosa, somos de uma Igreja que não
condena a homoafetidade!”. Por segundos deixei de falar para poder observar a
reação dos presentes e ver se o Pr. Alexandre não havia desmaiado (brincadeira
à parte). Claro que eles ficaram surpresos, pois eles não esperavam nunca um
casal homoafetivo assumido no evento sobre homossexualidade na Igreja.
O momento surpresa passou e
direcionamos o nosso discurso de que não estávamos ali para confrontá-los, mas
para aduzir a eles outra visão, lançar uma semente da necessidade de revisão na
forma do estudo daquelas passagens das Escrituras sobre a homossexualidade. Logo
o pastor convidado argumentou a “velha” resposta de que as palavras de Paulo
sobre as mulheres eram para aquela época e blá blá blá, o discurso que muitos já
conhecemos. Daí veio a nossa surpresa quando uma oportunidade foi passada para
uma jovem (membro da Igreja local) que o questionou: “Então, por que razão se contextualiza historicamente a palavra de Paulo sobre as mulheres e sobre a homossexualidade não?”. A mãe da jovem, que é
diaconisa na Igreja local, entrou no circuito e iniciou toda uma argumentação
com base em Romanos 1 (outra passagem na Bíblia tradicionalmente utilizada para a condenação da homossexualidade) pegando versículos isolados, sem contextualizar, de fato,
todas as passagens do capítulo.
Foi a oportunidade certa para que
o Pr. Alexandre entrasse no debate e iniciou o seu discurso sobre o estudo com
o método histórico-crítico da Bíblia. Uma enxurrada de argumentos, avaliações,
questionamentos gerados por ele que deixou os participantes em um profundo,
constrangedor e notório silêncio durante um tempo. Mas, reforçamos mais uma vez que o nosso alvo ali era provocar neles questionamentos fora
da “caixinha doutrinária” que a Igreja tem por séculos. (No final desse texto haverá links para que você, caso não conheça a TEOLOGIA INCLUSIVA, possa se aprofundar neste conhecimento)
Teologia Tradicional x Teologia
Inclusiva: o AMOR nunca falha
É importante citar que a
oportunidade de fala da estudante de psicologia também gerou um lindo momento.
Ela, a estudante, a mãe dela (presente no local) nos pediram perdão pelo discurso
de ódio e de desamor que sofremos por parte da igreja institucional ao longo de nossas vidas. Precisamos
confessar que essa ação nos pegou de surpresa e uma atmosfera de
quebrantamento foi sentida pelo menos por aqueles que estavam ligados em
espírito no Espírito Santo. Mas, a atmosfera logo foi dissipada, pois veio a
afirmação dela de que a prática da homossexualidade ainda era reprovada por
elas.
Outra situação bastante relevante
foi a do pastor convidado ao citar que os comportamentos de chacotas,
bullying, machismos e isolamento para com os jovens “aparentemente” afeminados,
não ajudavam em nada na conquista destes para Cristo. De que os cristãos
tradicionais necessitavam quebrar preconceitos e seguir em frente pregando o
amor de Deus.
Entre erros e acertos, prós e
contras, a percepção de haver Igrejas que se levantam para discutir de forma
aberta, mesmo que tenham ainda o discurso falacioso que é “[...] amamos o
pecador, mas repudiamos o pecado [...]”, precisamos dar crédito pela coragem deles de saírem do “mundinho gospel” e olharem para uma questão tão séria e tratá-la de
maneira direta com os jovens.
A semente foi lançada. Argumentos
foram apresentados. Notoriamente alguns dos presentes ficaram interessados em
querer conversas mais conosco. Mas, a direção do Espírito Santo, em um
determinado momento do evento foi: “Parem! Eles não podem receber mais do que
foi dito hoje. Vocês podem ir embora. Sejam sábios e saiam!”. Fomos convidados para
permanecer por mais tempo, mas preferimos seguir a voz do Espírito.
Continuemos com o amor à Obra, continuemos com
as nossas intercessões, mas, principalmente, sejamos corajosos como Estevão,
Filipe, Pedro e Paulo. Não nos acovardemos diante das várias vozes que nos condenam.
A mais importante voz, a voz do nosso Pai Celestial nos diz
diariamente: “Sejam corajosos, pois eu sou com vocês. Eu amo vocês!”. Capacitemo-nos
biblicamente, espiritualmente e sigamos em defender que o AMOR nunca falha.
No amor pela Obra,
irmão Jean Charles
Abaixo tem alguns links que possam interessar a você.
- O que é a TEOLOGIA INCLUSIVA?
- Audiência no Congresso Nacional sobre a CURA GAY
- Artigos do Pr. Alexandre Feitosa sobre BÍBLIA e HOMOSSEXUALIDADE
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